sábado, 24 de novembro de 2012

Resumo Viagens na Minha Terra




Bem, pra quem não leu o livro, aqui vai uma introdução da obra, a qual considero a mais difícil da lista Fuvest/Unicamp 2014. Fizemos a imagem para vocês entenderem melhor. Almeida, durante o livro,  faz um relato de suas viagens em Portugal. Ele sai de Lisboa de barco pelo Rio Tejo e desembarca na Vila Nova da Rainha. Dali segue de mula, passando por Azambuja e Cartaxo, até chegar em Santarém. Chegando ao Vale do Santarém, Almeida avista uma casinha com uma janela muito romântica. Um companheiro de viagem, a pedido de Almeida, lhe conta a historia de Joaninha - a menina dos olhos verdes, e Almeida a escreve em seu "diário".

Galera, temos resumos de todos os livros da fuvest/unicamp 2014 no mesmo estilo do resumo abaixo! Naveguem pelo blog e deixem seus comentários! :D
Resumo de Viagens na Minha Terra (1846) - Almeida Garrett


Autor e obra

  O nome verdadeiro de Almeida Garrett era João Baptista da Silva Leitão, o qual nasceu em 1799. Estudou direito em Coimbra a partir de 1816. Em 1818 publicou O Retrato de Vênus, trabalho que lhe custou um processo por ser considerado materialista, ateu e imoral. É neste mesmo ano que ele e sua família passam a usar o apelido de Almeida Garrett.
  Almeida participou da revolução liberal de 1820, seguindo para um exílio na Inglaterra em 1823. Foi na Inglaterra que tomou contato com o movimento romântico, sendo considerado um dos maiores escritores portugueses. Suas obras trouxeram inovações e abriram novos rumos.
 A vitória do Liberalismo permitiu-lhe instalar-se novamente em Portugal. Foi um homem de muitos amores, uma espécie de homem fatal. Falece em 1854, vítima de cancro.


Tempo e espaço

  A ação decorre durante uma viagem que Garrett faz de Lisboa a Santarém (ver mapa). O país estava decaindo, os freis haviam sido substituídos pelos barões, os quais Almeida detestava.
  Parte da historia de Joaninha e Carlos acontece no Vale do Santarém, onde se localizava a casa de Joaninha e sua avó, entre o ano de 1820 e 1840, aproximadamente. Durante tal historia acontecia a Guerra Civil Portuguesa, entre constitucionalistas(a favor da monarquia absolutista) e realistas (liberais e contra D. Miguel), da qual Carlos luta apoiando os realistas.


Personagens

Almeida Garret: escritor do livro, narra sua viagem de Lisboa a Santarém com muita personalidade e opiniões sobre os locais por onde passava. Era liberalista e odiava os barões, símbolo capitalista da época.

Yorick: companheiro de parte da viagem de Almeida que lhe conta a historia de Joaninha - a menina dos olhos verdes.

Joaninha: prima de Carlos, no início da historia se apresenta como menina que proporciona a paz e a felicidade, extremamente amorosa, dócil e ingênua. Depois, se torna uma moça encantadora, mas não perde suas características. Era a única da família que não sabia do segredo terrível que nela pairava. Possuía aversão ao Frei Dinis.

Carlos: primo de Joaninha, ao passar dos anos foi corrompido pela sociedade, ficando no final extremamente degradado. Possuía um caráter difícil de ser entendido. Sabia parte do segredo terrível e por isso decidiu partir para a guerra. Não suportava o Frei Dinis (pois sabia que ele havia matado seu “suposto” pai). Em sua pequena estadia na Inglaterra se aproxima de uma família rica (através de mentiras) e se apaixona pelas três filhas do casal. Muito apegado a Joaninha, inicialmente como uma espécie de irmã e depois como mulher.

D. Francisca - avó de Joaninha e de Carlos: cheia de remorsos, ficou cega quando Carlos partiu para a guerra, pois foi quando o Frei Dinis lhe contou todo o terrível segredo.

Frei Dinis: homem velho, cansado e sofrido. Era autor de um terrível segredo, e por isso decidiu ser frei (tentativa de se livrar dos remorsos, não obtendo sucesso). Possuía fortíssimos princípios e opiniões. Em todo o decorrer da historia, é odiado por Carlos, pela D. Francisca, e por Joaninha.

Julia, Laura e Georgina: irmãs nobres e inglesas extremamente bonitas, angelicais e ingênuas. Gostavam muito de Carlos e ele se apaixonou por cada uma delas, em momentos diferentes.


Análise da obra

- o livro é uma espécie de diário em que Almeida escreve no decorrer de sua viagem, fazendo suas anotações.

- mistura de estilos e de gêneros: linguagem ora clássica ora popular, ora jornalística ora dramática, ressaltando a vivacidade de expressões e imagens.

- análise da situação política e social do país, sendo que há uma simbologia em que Frei Dinis e Carlos representam: no primeiro é visível o que ainda restava de positivo e negativo do Portugal velho e absolutista; o segundo representa, até certo ponto, o espírito renovador e liberal.

- o fracasso de Carlos é em grande parte o fracasso do país que acabava de sair da guerra civil entre miguelistas e liberais e que dava os primeiros passos duma vivência social e política em moldes modernos.

- é um romance histórico.

- quando Almeida conta suas viagens é um narrador em primeira pessoa.

- quando Almeida conta a historia de Joaninha é um narrador onisciente e em terceira pessoa.

- percebe-se que Almeida “complementa” a historia de Joaninha que lhe foi contada por seu companheiro. Por exemplo, há momentos em que ele consegue ver as poesias que só existiam no pensamento de Carlos.

- conforme Almeida vai viajando, ele conta detalhadamente o lugar por onde passa, mencionando a historia, as características e as construções dele, emitindo em quase tudo sua opinião.

- no livro, Almeida critica duramente os barões(símbolo do capitalismo na época - materialismo puro).

- repleto de digressões, em que o autor para o que está contando e escreve seus pensamentos sobre as mais diversas coisas.

- na época em que o livro foi escrito os freis haviam sido substituídos pelos barões. Almeida não gostava dos dois. Na realidade até apoiou o “fracasso” dos freis, mas quando conheceu as atitudes dos barões, mudou de ideia. Entre um e outro, preferia os freis.

- Almeida era extremamente contra a ciência e o progresso (típico do Romantismo).

- Joaninha passa a ter grande aversão ao Frei Dinis depois que sua avó, D. Francisca, ficou cega.

- No final do livro Carlos, já sem a capacidade de sentir e amar, se torna um barão, sendo mais uma crítica a essa classe social materialista.


Síntese

   Almeida está em Lisboa quando começa a pensar em viajar por Portugal, partindo para Santarém. Sua pena, “pobre e soberba” (Capítulo 1), queria uma assunto melhor para escrever do que as “viagens” que ele fazia em seu quarto nas noites de verão (alusão ao livro “Viagens ao Redor do Meu Quarto” escrito por Xavier de Maistre), olhando as poucas árvores e o Rio Tejo. Se ele viajasse sua pena iria ter muito o que escrever.
    Sua decisão foi tomada por estar abalado pelas instâncias de um amigo de Santarém (Manuel Passos) e quando um jornal, que soube seu interesse em viajar, disse em uma publicação que ele o faria por política.E ele foi: “pronunciei-me” (Capítulo 1).
   No dia 17 de julho de 1843 ele partiu junto com seus companheiros em um barco lerdo, que jamais ganharia uma regata de vapores (disputa da época entre barcos). Almeida vai admirando a Lisboa oriental: “a mais bela e grandiosa parte da cidade” (Capítulo 1).
   Quando o barco passa pela Vila Franca (ver o mapa acima), o autor comenta com seus companheiros e escreve o fato de uma restauração feita ali ter desabado. A questão não era de "restaurar nem de não restaurar, mas de se livrar a gente de um governo de patuscos, que é o mais odioso e engulhoso dos governos possíveis” (Capítulo 1). Continuando o pensamento ele chega a conclusão que o desabamento ocorreu porque era a “ordem das coisas, e que por força havia de suceder” (Capítulo 1).
   No barco se encontrava vários grupos, Almeida e seus companheiros estavam com um grupo de campinos (atletas que corriam atrás de touros em espetáculos) e um grupo de ílhavos (campestres que cuidavam de plantações ao redor do Rio Tejo, tendo que enfrentar muitas vezes tempestades).
   Depois de uma longa discussão (que atraiu muitos espectadores) para ver qual grupo era mais forte, os ílhavos venceram, afirmando que quem controla uma tempestade é mais forte do que quem controla um touro, sendo aplaudidos.
   Certa vez um filósofo escreveu que para o progresso há dois princípios: a espiritualidade (representada por D. Quixote), e a materialidade, que é o inverso da espiritualidade (representada por Sancho Pança). Como nos livros de Cervantes (autor de D. Quixote) esses princípios tão avessos sempre andam juntos e progridem sempre.
   Almeida afirma que “Viagens na Minha Terra” é esse progresso, sendo que naquela época o mundo era dominado por Sancho Pança e que logo D. Quixote subiria ao poder. Ele afirma que a passagem pelo Rio Tejo é “a marcha do nosso progresso social” (Capítulo 2).
   Eles chegam a Vila Nova da Rainha. Lá Almeida passa a viajar de mula, indo em direção a Azambuja. A estrada até lá era feia e vazia. Almeida se lembrou que certa vez um amigo lhe disse que para as estradas serem boas os ministros tinham que mudar de rua de 3 em 3 meses!
  Azambuja possuía uma população pequena e feliz, era um lugar simples. Quando Almeida visualiza a estalagem onde eles iam descansar e beber algo (era a única no local) se assusta: havia uma mulher feia na porta.
   Almeida, no início do terceiro capítulo, faz uma forte crítica ao capitalismo da época: “Sancho, o invisível rei do século, aquele por quem hoje os reis reinam e os fazedores de leis decretam e aferem o justo!” (Sancho não é o rei, e sim a representação de homens riquíssimos que possuem grande influência) e “Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas de dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?”
   Ainda há mais uma crítica, dessa vez à ciência: “A ciência deste século é uma grandessíssima tola. E, como tal, presunçosa e cheia de orgulho dos néscios” (presunçosa: pretensiosa e néscios: ignorantes). É uma característica do Romantismo a aversão à ciência.
   Antes de terminar com essa digressão, Almeida faz uma última observação: “(...) uma incoerência inexplicável. A sociedade é materialista; e a literatura, que é a expressão da sociedade, é toda excessivamente e absurdamente espiritualista!”.
   Almeida tenta descrever a estalagem onde estava como deveria: com formalidades, ressaltando suas qualidades com comparações ricas. Após tentar, declara que é impossível, porque em tal estalagem nada havia! Ele não queria “caluniar a boa gente de Azambuja” (Capítulo 3), mas acreditava que beleza e mentira não cabiam no mesmo saco.
   Então decidiu contar a verdade: era um lugar simples, mal-cuidado, com uma velha nojenta os recepcionando. Tomaram uma limonada e seguiram a viagem até o “famoso pinhal da Azambuja”.
   Na introdução do Capítulo 4 Almeida já avisa ao leitor que o capítulo é composto só por pensamentos e que o bom leitor deve pular esse capítulo. Já que somos bom leitores, vamos pulá-lo! Pensando bem, é melhor lermos, vai que justo essa parte cai no vestibular hahaha Falando em vestibular, Almeida Garrett influenciou Machado de Assis. Machado, logo nos primeiros capítulos de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, faz o mesmo que Almeida: avisa o leitor que o capítulo seguinte é desnecessário para o entendimento da obra, e que, portanto, pode ser pulado (capítulo que conta os delírios de Brás Cubas, o qual estava doente).
   Almeida afirma que a modéstia é a mais bela qualidade do ser humano, ganhando até da inocência, pois essa é perdida facilmente, enquanto a modéstia é mais “resistente”. Uma moça modesta é o objeto mais lindo de toda a natureza, mas quando ela começa a se atrever, rir desconcertadamente e maliciosamente, falar com as mãos, perde toda a sua graça [coisas da época...].
   Chegando no pinhal da Azambuja, não havia mais a floresta fechada, e sim muitas vinhas, com pouquíssimas árvores. Isso chateou muito Almeida, pois ali ele pretendia construir uma história com personagens e agora não havia mais jeito, pois não havia mais cenário! E em uma mula, abatido, seguiu sua viagem para Santarém.
   Almeida era um forte admirador de “Os Lusíadas” e via nessa obra um único defeito: Camões misturou nela cristianismo com mitologia. Pensou que se Camões tivesse nascido agora, na época romântica, ele não teria cometido esse "erro". Outro pensamento surgiu: “é preciso crer em alguma coisa para ser grande” (Capítulo 6).
   Inconformado, Almeida foi até as Ilhas Beatas falar com o Marquês de Talleurand. Perguntou-lhe o porquê dele ter plantado tantas vinhas naquela região, pois elas haviam invadido e destruído o pinhal de Azambuja. O marquês, muito esperto, se safou perguntando quem agora ia beber todo esse vinho (como se o problema fosse a quantidade de vinho produzido com as vinhas).
   Seguiram viagem até o grande Café de Cartaxo. Almeida faz uma forte repreensão aos lisboetas (pessoas que moram em Lisboa) que não viajavam e ficavam presos aos mesmos lugares, as mesmas pessoas, aos mesmos acontecimentos.
   “O Café é uma das feições mais características de uma terra”, Almeida afirma. Só de analisar o Café de um lugar já se pode perceber o país em que se encontra. Entraram no Café de Cartaxo, um lugar onde reinava “uma frescura admirável”.
   Quando perguntaram de um conhecido o Sr. D, dono do estabelecimento, respondeu dizendo que ele era conhecido em Cartaxo como Alfageme , devido a sua semelhança com o “verdadeiro Alfageme”: um rico homem de Santarém que havia lutado pelos direitos do povo acima de tudo. O que o Alfageme de Cartaxo fez para ser associado com tal figura? Nada demais, apenas se tornou juiz e tinha uma grande lábia com o povo.
   Saíram do Café e com o Dr. D. foram dar um passeio. Cartaxo era um terra nova, que havia ficado famosa há uns 40 anos atrás devido ao vinho, o qual logo perdeu sua fama. Almeida critica fortemente os ingleses que abandonaram a aliança com Portugal, dizendo que sem Portugal eles nada seriam.
  Estava entardecendo e Almeida partiu viagem para Santarém, passando por uma charneca (tipo de vegetação xerófila de Portugal), a qual era tão bonita e inspiradora que provocou em Almeida uma vontade extrema de compor versos. Não os fez, mas foi como se os tivesse feito, pois entrou em um profundo estado poético.
  Esse estado poético foi interrompido quando passaram pelo local onde ocorreu a última revista de Dom Pedro ao exército liberal, depois da Batalha de Almoster, uma das mais sangrentas.
  Uma amarga reflexão invadiu Almeida, que pensava nas guerras civis. Lembrou de quando esteve presente no local onde ocorreu a Batalha de Waterloo: ainda conseguia ver os esqueletos dos assassinados. "Toda a guerra civil é triste. E é difícil dizer para quem mais triste, se para o vencedor ou para o vencido." (Capítulo 8). Toda a beleza da charneca desapareceu, e foi nesse clima que ele chegou à Ponte de Asseca.
  O nono capítulo se inicia com Almeida admirando Ênio Manuel Figueiredo, um escritor que deixou inúmeras peças de teatros melhores do que as que eram apresentadas em seu tempo. Possuía uma admiração especial pela obra “Poeta em anos de Prosa”, principalmente pelo título, acreditando que não havia conteúdo em um livro capaz de descrever tal título.
  Almeida conhecia três grandes poetas do século: Bonaparte (“fez sua Ilíada com a espada” - Capítulo 9), Sílvio Pélico ("fez sua Ilíada com paciência" - Capítulo 9) e o Barão de Rotschild ("fez sua Ilíada com o dinheiro" - Capítulo 9). Os outros escritores, em sua opinião, eram tolos.
  Desde sempre Almeida foi jacobino (seguia Napoleão Bonaparte), mesmo seus pais o repreendendo. Foi para a França conhecer o governo de seu “ídolo” e se decepcionou: o Império, tão bem falado alguns anos antes, já estava em ruínas. Ao menos, lá conheceu a Madame de Abrantes, uma mulher que apesar de idosa era muito graciosa e encantadora.
  Terminando essa digressão, Almeida já estava no vale do Santarém. Um lugar lindo, que não existia em nenhum outro país. Dentre as árvores avistou uma janela, ficou pensando quem poderia morar ali. Se fosse uma mulher, o romance estaria completo. Seu companheiro de viagem lhe contou que ali havia morado a “menina dos rouxinóis” (Capítulo 10). Almeida se interessou pela história e decidiu contá-la.
  Almeida afirma que todo o homem necessita de amor, esse é o alimento do coração. Sem ele, o homem se torna um “maçador terrível” (Capítulo 11). Sendo assim, ele se preocupa se vai conseguir inserir a história de Joaninha no livro, já que suas únicas formas de amor eram uma saudade e uma esperança: “um filho no berço e uma mulher na cova” (Capítulo 11 - Almeida era viúvo e possuía um filho pequeno). Mas se lembrando de uma visão (não disse qual era), teve certeza de que era capaz de fazer tal inserção e começa a contar a história que ouvia de seu companheiro (percebe-se, no decorrer da história, que ele a complementado com detalhes).
  Naquela casa que possuía a janela estava uma velhinha que costurava. Ela era cega e a linha enrolou em seu braço. Ela chamou sua neta, Joaninha, que a ajudou com extrema bondade. Entraram para jantar.
  Depois de jantar o rosto de Joaninha se entristeceu. Ela derramou uma lágrima que caiu na mão de sua avó. Essa a lambeu ( que estranho né? haha) e perguntou porque ela chorava. Quando Joaninha foi responder, o Frei Dinis chegou.
  Almeida conta que os frades foram substituídos pelos barões. Os frades não entenderam as inspirações e aspirações dos romancistas, se isolando. Os barões, infelizmente, eram piores que os frades, pois usaram a influência adquirida de maneira errada (coisa que os frades faziam de maneira correta).
  Voltando a história (quando os Freis já haviam se isolado e sofriam certo escárnio), o Frei Dinis discutiu com a avó de Joaninha, pois essa implorava uma espécie de proteção e de aceitação para o seu neto (Carlos) e o Frei Dinis se recusou a dar, ficando com tanta raiva que até o amaldiçoou. A avó de Joaninha, quando ouviu isso, caiu de joelhos, extremamente agoniada e passando mal. O Frei Dinis a observou e chamou Joaninha, indo embora sem olhar para trás.
  O Frei Dinis acreditava que a sociedade precisava apenas de uma monarquia teocrática, mais do que isso era desnecessário. Acreditava também que a sociedade só precisava das leis do Evangelho: “reforçá-las é supérfluo, melhorá-las impossível, desviar delas monstruoso.” ( Capítulo 15). Ele era contra o liberalismo presente na época na Europa (Revolução Francesa), pois os conceitos de liberdade e igualdade só poderiam ser entendidos e usados da maneira correta coexistindo com uma crença em Deus. Como tal coexistência não acontecia, ele possuía uma visão pessimista do futuro.
  Por que um homem tão opinativo, tão sábio, tão superior decidiu ser frei, se isolar do mundo e manter relações apenas com a família de Joaninha?
  Antes de ser frei, ele se chamava Dinis de Ataíde. Os pais de Joaninha e de Carlos ainda existiam (com exceção da mãe de Carlos, que morreu em seu parto).
  Dinis de Ataíde freqüentou a casa da avó de Joaninha até a morte do pai de Joaninha e do pai de Carlos em uma embarcação, no Rio Tejo.
  A partir desse dia, ele deixou de visitar a casa da avó de Joaninha. A mãe de Carlos, filha de D. Francisca, morreu. Até que Dinis abandonou seu dinheiro e seus criados e se tornou um frade, ficando apenas com uma certa quantidade de dinheiro para ajudar D. Francisca, Joaninha e Carlos.
  E todas as sextas ia visitá-los, ainda quando Carlos e Joaninha eram crianças. Joaninha adorava tudo no frade (opiniões, atitudes), menos sua pessoa: “contradição inaudita e inexplicável” (Capítulo 16).
  Carlos cresceu e foi para Coimbra. Depois de se formar decidiu ir guerrear na Inglaterra ao lado dos realistas, apoiando o liberalismo. O Frei Dinis, que muito de preocupava com Carlos, tentou impedir até o momento em que Carlos disse que sabia...
  O Frei empalideceu, tremia e perguntou o que ele sabia. Carlos afirmou que sabia de algo importantíssimo mas não contou (sabia uma parte do terrível segredo), deixando claro que partiu por causa disso mas sem contar o que exatamente sabia.
  Depois de Carlos partir, o Frei veio e se trancou com Francisca no quarto, tendo uma longa discussão (na qual o Frei lhe contou todo o terrível segredo), e se foi. D. Francisca chorou por 3 dias e ficou cega. “O Frade envelheceu de dez anos naquele dia” e “Nunca mais houve um dia de alegria no vale” (capítulo 16). E as sextas, quando o frei vinha, se tornou o dia negro.
  Passou-se dois anos até chegar aquela sexta em que o Frei amaldiçoou Carlos e D. Francisca passou mal.
  Na sexta seguinte o Frei trouxe notícias de Carlos. Fez questão de dizer coisas horríveis sobre a guerra, deixando Joaninha e sua avó agoniadas e só no final  da conversa disse que Carlos havia mandado uma carta.
   Joaninha abriu a carta e disse que era endereçada somente a ela, mas D. Francisca insistiu que ela lê-se em voz alta. Ela leu, e no final mentiu dizendo que ele pedia a benção de D. Francisca (na verdade ele nem a havia mencionado). Joaninha respondeu a carta e o Frei a levou até Lisboa.
  Passou-se 1 ano, Carlos não respondeu a carta e a guerra estava cada vez mais violenta.
  Os constitucionais venceram uma batalha e adentraram no Vale do Santarém, ficando ali por meses. Ali também se encontrava algumas tropas realistas (lado em que Carlos lutava), porém a casa de D. Francisca ficava no território dos constitucionais. A avó de Joaninha, mesmo doente, cedeu uma parte da casa para os guerreiros.
   Joaninha era sempre bondosa e amável com todos, ganhando o amor e o respeito dos soldados, tanto dos constitucionais quanto dos realistas. Como ficava todo o amanhecer e o entardecer na janela (a mesma que Almeida admirou) ouvindo os rouxinóis, ganhou o apelido de “menina dos rouxinóis”.
   Certa vez Joaninha adormeceu no vale e anoiteceu. Um oficial veio ver que vulto era aquele e se surpreendeu: era Joaninha, e o oficial era Carlos, que havia acabado de chegar naquele campo.
   O reencontro foi feliz e inesperado, pois Joaninha sempre sonhava que Carlos morria na guerra e que  nunca mais poderia vê-lo. Contudo os dois estavam no meio do campo de batalha e tiveram que separar (sendo que Carlos pediu para ela não contar a D. Francisca que ele estava por perto). Carlos até chegou a ser atingido por dois soldados realistas, que o confundiram com um constitucional, mas, felizmente, o tiro pegou de raspão.
  De madrugada ficou pensando em Joaninha: quando ele foi para a guerra ela ainda era uma criança, mas agora era uma donzela linda e encantadora. Seus beijos e abraços no reencontro o deixou transtornado. Amava-a, mas havia prometido a Georgina o seu amor.
  Carlos era poeta, mas não escrevia. Seus pensamentos eram poesia sublimes (o narrador onisciente conseguiu, “por um processo milagroso de fotografia mental” - Capítulo 23 - ver alguns trechos fragmentados dos pensamentos de Carlos).
  Almeida acreditava que havia o homem como Adão Natural (bom e puro) e o Adão Social (ruim e mesquinho). Carlos era um dos Adãos Sociais que mais se aproximava do Adão Natural. Contudo isso foi se perdendo durante a sua vida, devido a sociedade e seus modelos.
  Quando Carlos foi encontrar Joaninha predominava nele o Adão Social: “dúvida, incerteza, vaidade, mentira, deslocavam e anulavam a bela organização daquela alma” (Capítulo 24)
  Carlos não iria ver sua avó, mesmo ela estando doente, havia prometido a si mesmo que nunca mais entraria naquela casa (devido ao terrível segredo). Para Joaninha não perceber, pois ele não queria nem que ela imaginasse que havia um segredo, ele iria “enrolá-la”, dando a desculpa que não iria por causa da guerra já que ele teria que entrar em território inimigo.
  Joaninha e Carlos se encontraram. Ela perguntou sobre a visita a D. Francisca, e ele deu a desculpa da guerra. Joaninha confessou que o amava. Ele, apesar de também amá-la, nada disse (havia prometido amor a Georgina). Joaninha percebeu que ele amava outra mulher, mesmo Carlos dizendo que isso era absurdo. Se beijaram e se foram, ambos extremamente diferentes e transformados.
  Almeida decidi pausar a historia e ir para Santarém. A vila estava atualmente “mal cuidada”, para total decepção de Almeida, o qual sabia que aquele lugar já havia sido grandioso e próspero.
  De uma maneira geral, os monumentos antigos de Santarém haviam sido reconstruídos, perdendo todo o seu valor histórico e sua graciosidade. A situação da vila era culpa das autoridades, dos barões e da própria população, que não sabia dar o devido valor nela.
  Chegaram na casa de Manuel Passos, o amigo citado no início do livro como motivo para Almeida decidir viajar para Santarém. Foram muito bem recebidos e na manhã seguinte Almeida se deparou com um lindo cenário: Santarém e ao fundo, as águas do Rio Tejo (olhe no mapa, a vila Santarém fica ao lado do Rio Tejo). Nele invadiu pensamentos e imagens, mas todos melancólicos e sem esperança.
  A padroeira de Santarém era Santa Ira. Havia duas versões para a sua historia: simples, através de uma trova (ou cantiga) cantada pelo povo, e mais rebuscada, contada pelos membros da Igreja Católica.
  Almeida e os amigos foram andar pela cidade. Foram na porta do Sol, um lugar onde antigamente eram feitas as execuções de pessoas. Lá o amigo de Almeida iria terminar de contar a historia de Joaninha.
  Após Carlos e Joaninha terem se separado naquele encontro em que ambos se transformaram, as tropas começaram a se movimentar. Carlos se preparou, queria morrer.
  No dia seguinte Carlos foi gravemente ferido na batalha. Acordou, em situação grave, no Convento de São Francisco (onde o Frei Dinis morava), em Santarém, sendo olhado por Georgina, que veio lhe visitar e o encontrou ferido no campo de batalha. Carlos disse que ainda a amava e Georgina disse que era mentira.
  Semanas se passaram e Carlos não corria mais o risco de morrer. Georgina o avisou que sua avó e Joaninha foram avisadas só agora de onde ele estava (Georgina e o Frei Dinis esperaram ele melhorar para dar a notícia).
  No decorrer da conversa percebe-se que Georgina e Carlos haviam tido um romance (logo será explicado) e após se separarem começaram a trocar cartas. Porém, Georgina reparou que quando ele chegou em Santarém as cartas mudaram, estavam mais frias e distantes. Então veio atrás dele, o encontrou ferido no campo de batalha e, com a ajuda de Frei Dinis, o trouxe para o Convento.
  Georgina, com tudo isso, conheceu Joaninha e sua avó e percebeu que Joaninha e Carlos estavam apaixonados. Em determinado momento, conversando com Georgina, Carlos amaldiçoa o Frei, que ouvindo adentra no quarto.
  Carlos acusa o Frei de ter matado seu pai e o Frei se joga no chão, pedindo a Carlos que o matasse.
  Georgina se ajoelhou no chão e fez o Frei se ajoelhar também. Com uma voz de anjo perguntou a Carlos se ele não iria perdoar o Frei.
  Some em Carlos toda a raiva e ele se ajoelha também, ficando os três abraçados em longo silêncio. O Frei, algum tempo depois, pergunta se Carlos também não o perdoaria pela “memória” de sua mãe.
  Carlos se enraiveceu e pegou um velador de pau-santo para atirar no Frei com a intenção de matá-lo. Joaninha e sua avó chegam, sendo que a última diz que o Frei Dinis era o pai de Carlos.
  “Carlos caiu por terra sem sentidos” (Capítulo 35). Abriu a ferida (causada na guerra) de seu pescoço que começou a sangrar e com muito esforço foi estancada.
  Georgina aproveitou a situação para dizer a Joaninha que não o amava mais (mentira) e a fez prometer que ela sempre cuidasse de Carlos, por pior que ele se tornasse.
  Foi revelado todo o mistério: o Frei era amante da mãe de Carlos (lembrando que na época ele era apenas o Dinis de Ataíde). O marido dela, quando descobriu o caso, se juntou com o pai de Joaninha e foram matar o Frei. O Frei conseguiu se defender (era noite, não sabia quem o atacava) e matou seus agressores. Após isso, viu que havia matado o marido de sua amante e o pai de Joaninha. Jogou os corpos nos rios.
  A única pessoa para quem o Frei contou foi para sua amante, mãe de Carlos: “vi morrer de pesar e de remorsos, que expirou nos meus braços chorando por ele, e maldizendo-me a mim” (Capítulo 35). Esse “ele” é o marido de sua amante, o homem que Carlos, naturalmente, achava que era seu pai. Essa é a real historia do segredo que o Frei Dinis contou a D. Francisca para ela ter ficado cega.
  Carlos se levantou, beijou a mão de seu pai e abraçou sua avó, a qual disse que finalmente poderia morrer em paz. Saiu do quarto, dizendo que já voltava e não voltou: havia ido novamente para a guerra. Após tudo isso, Carlos havia perdido a capacidade de sentir e de se comover.
  A história pausa novamente, porque Almeida e seus companheiros vão ver o santo milagre, antes que escureça. Dentro de alguns dias a história terminará de ser contada.
  Almeida não conta a história do santo milagre, afirmando que todos já a conhecem. Ele visitou a Igreja que continha o milagre, que era “o resto da partícula consagrada que a judia roubara para seus feitiços” (Capítulo 37).
  No dia seguinte Almeida visitou um colégio e uma igreja, a qual estava muito mal-cuidadosa. O corpo do santo que ficava na Igreja, o santo Frei Gil, foi roubado pelo Frei Dinis há alguns anos atrás, quando a instituição franciscana já havia sido destruída pelos barões. Inconformado, ele roubou o corpo do santo antes que os barões o pegassem e o levou ao antigo mosteiro das claras, onde estaria seguro.
 Almeida “se enche” da decadência de Santarém : “Já me enfada Santarém, já me cansam estas perpétuas ruínas, estes pardieiros intermináveis, o aspecto desgracioso desses entulhos, a tristeza dessas ruas desertas. Vou-me embora” (Capítulo 41).
  Antes de partir Almeida foi visitar o túmulo do Rei D. Fernando, o qual já havia sido remexido. Almeida enfiou a mão no sepulcro e achou ossos em pó, o crânio de um adulto e o crânio de uma criança. Almeida tentou roubar o crânio do adulto (subtende-se que ele achava que os restos mortais do rei valiam muito para ficar sem alguma proteção), mas desistiu.
  Termina o capítulo falando da decadência de Portugal devido a gana dos barões. Mencionou Jesus, o qual perdoou um assassino, uma adúltera, dentre outros. Porém, quando viu barões agiotando no lugar santo, os expulsou.
  Voltando a historia, Georgina foi para Lisboa junto com D. Francisca e Joaninha meia louca, a qual segurava chorando a única carta que Carlos havia mandado quando estava em Évora-monte.
  Almeida parte de Santarém em direção a Lisboa, com um pouco de pena de abandonar a cidade, contudo estava cansado de lá.
  Na volta passa pela casa de Joaninha. Curioso, se aproxima, deparando-se com o Frei Dinis e com a irmã Francisca.
  Almeida pergunta onde estava Carlos e Joaninha. O Frei responde que Joaninha havia morrido e mostra a longa carta que Carlos mandou a ela quando estava em Évora-Monte.
  Carlos, na carta, começa dizendo que ele a escreveu apenas para Joaninha. Dizia que não a merecia e que não havia mais solução, reconhecia que a sua própria vida estava perdida. Conta-lhe o que aconteceu.
  Logo quando partiu para a guerra e foi para Inglaterra Carlos se aproximou de uma família rica e nobre (mentindo, para agradar a família e conseguir uma aproximação). Nela havia três irmãs lindas e angelicais: Julia (a mais bonita), Laura (a mais fascinante) e Georgina.
  De início Carlos se apaixonou perdidamente por Laura, se declarando. Laura também o amava, o problema é que ela iria se casar com um homem da Índia. Quando soube disso, Carlos sofreu muito: “foi a primeira dor verdadeira que sofri...” (Capítulo 46).
  Carlos e Laura fizeram promessas que ele decide não revelar a Joaninha. Carlos, Georgina e Julia foram levar Laura para viajar à casa de uma amiga da família, na qual ficaria até próximo de se casar.  Quando viu Laura partir sentiu um alívio, como se tirasse um peso dos ombros.
  O pai de Laura foi visitá-la e pediu à Carlos que olhasse Julia e Georgina. Carlos escrevia cartas de amor a Laura, e essa respondia a Julia, a qual as mostrava a ele. Laura deixou um cinto a Carlos, sendo que esse ainda o guardava com muito cuidado e o beijava sempre. Pelas cartas, Julia e Carlos se aproximaram muito: “meu coração que me surpreendia por não saber a qual queria mais” (Julia ou Laura - Capítulo 47).
  Laura voltou para casa e Carlos partiu. Logo Laura se casou e Carlos pode voltar (ele foi embora quando Laura voltou porque era uma promessa que eles haviam feito). Quando chegou, Georgina veio avisar-lhe que Julia estava meio doente. Pela primeira vez Carlos reparou em como ela era linda e se apaixonou.
  Julia se curou e o romance de Carlos e Georgina durou 3 meses. Ele teve que partir para Açores. O seu coração estava repartido pelo mundo: um pedaço na Inglaterra (Georgina e talvez Julia também), na Índia (Laura) e no Vale do Santarém (Joaninha).
  Carlos voltou para Portugal como oficial e reencontrou Joaninha dormindo (o resto a gente já sabe). Quando a viu soube que só a ela tinha amado toda a vida, que tinha nascido para viver com ela. Contudo, com todo o acontecido, Carlos havia perdido a capacidade de sentir, ele não tinha mais coração para dar a Joaninha. “A mulher que me amar há de ser infeliz por força; a que me entregar o seu destino, há de vê-lo perdido” (Capítulo 48).
  A guerra estava terminando e Carlos, se não morresse, pretendia entrar para a política. Pela última vez dá adeus a sua amada Joaninha e a carta termina.
  Almeida devolve a carta ao Frei Dinis e pergunta o que havia acontecido. Carlos havia engordado e se tornado barão: estava irreconhecível.
  Joaninha, com o tempo, enlouqueceu e morreu nos braços de Georgina e de D. Francisca. Desde esse dia, D. Francisca não falava mais, sua alma estava morta. O Frei só esperava seu corpo morrer para enterrá-lo. Georgina voltou para a Inglaterra, montou um convento e se tornou abadessa.
  Almeida os deixou, sentia a morte ali. Voltou triste e pessimista para Lisboa.
  E assim termina o livro. Almeida confessa que de todas as viagens que podia fazer pelo mundo, as que mais lhe agradava eram as viagens na sua terra. O autor ainda deixa claro que não viajaria em trens em Portugal, pois as estradas foram construídas pelos barões, finalizando o livro com essa última crítica aos capitalistas da época.

Texto e imagem de Graziella Toffolo Luiz

Olá gente! Ultimamente o blog vem recebendo muitas visualizações :) Curtam nossa página no face e se precisarem de qualquer tipo de ajuda (algo que não entendeu dos resumos, escolha de curso, dicas etc) estamos dispostos a ajudar! Um beijo ♥ www.facebook.com/televestibular

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Resumo de Memórias de um Sargento de Milícias


Resumo de Memórias de um Sargento de Milícias - Manuel Antônio de Almeida


Autor e obra
  Manuel Antônio de Almeida era filho de um modesto casal de portugueses, perdeu o pai aos dez anos de idade. Pode-se supor que tenha conhecido de perto a vida da pequena classe média carioca, que povoa sua obra-prima. Sabe-se que estudou desenho na Academia de Belas Artes e que, feitos os preparatórios, foi aprovado em 1848 para o curso de medicina. Formou-se médico em 1855, tendo perdido dois anos, talvez por dificuldades financeiras, que devem tê-lo impedido de exercer a profissão. A necessidade de prover os meios para sua sobrevivência o levara ao jornalismo. Trabalhou como revisor, traduzir para folhetins de jornal e foi redator do Correio Mercantil.
  Publicou o romance Memórias de um Sargento de Milícias em folhetins anônimos quando cursava medicina. Cada capítulo do livro foi publicado semanalmente em um jornal. Todos os folhetins foram reunidos e formaram o livro “Memórias de um Sargento de Milícias” em 1854 e 1855, em dois volumes, como autor ”Um Brasileiro”. Essa omissão de seu nome no romance indica que Manuel Antônio de Almeida não queria seguir uma carreira literária. Era extremamente talentoso, uma vez que era médico, escritor, músico, tradutor e pintor.Além disso, depois que se formou em medicina, ingressou na carreira política, morrendo em um naufrágio enquanto fazia propaganda para um deputado.


Personagens

LEONARDO- protagonista que garante unidade à narrativa. O sargento de milícias a que se refere o título da obra é Leonardo, embora o personagem obtenha esse cargo somente nas últimas páginas do livro. Era esperto e possuía um gênero cólico.

LEONARDO-PATACA- pai de Leonardo, um meirinho (oficial de Justiça) que fora vendedor de roupas em Lisboa e, durante sua viagem ao Brasil, conhece Maria das Hortaliças, o que resultará no nascimento de Leonardo.

MARIA DAS HORTALIÇAS- mãe de Leonardo, uma saloia (camponesa) muito namoradeira, que abandona o filho para ficar com outro homem.

O COMPADRE (OU PADRINHO)- é dono de uma barbearia e toma a guarda de Leonardo após os pais abandonarem a criança. Torna-se um segundo pai para ele, sendo extremamente atencioso e preocupado com o menino.

A COMADRE (OU MADRINHA)- mulher gorda e bonachona, parteira, apresentada como ingênua, frequentadora assídua de missas e festas religiosas. No decorrer do livro sempre se mostra muito apegada à Leonardo

MAJOR VIDIGAL- homem alto, não muito gordo, com ares de moleirão. Apesar do aspecto pachorrento, era quem impunha a lei de modo enérgico e centralizado, sendo severo.

DONA MARIA- mulher idosa e muito gorda, não era bonita, mas tinha aspecto bem-cuidado. Era rica e devotada aos pobres. Tinha, contudo, o vício das demandas (disputas judiciais).

LUISINHA- sobrinha de dona Maria, possuía um coração terno. Seu aspecto, inicialmente sem graça, se transforma gradualmente, até se tornar uma rapariga encantadora.

VIDINHA-  mulata de 18 a 20 anos, muito bonita, doce, atraente, namoradeira, que atrai as atenções de Leonardo.

TOMÁS- amigo de infância de Leonardinho, foi sacristão junto com ele. Quando adolescente,  o reencontrou.

TEOTÔNIO- homem extremamente divertido, com vários dons, dentre eles o de imitar as pessoas, cantar e dançar. A única coisa que fazia na vida era ir à festas e animá-las, além de ser um apostador de jogos. Procurado pelo Major Vidigal.

MARIA REGALADA- risonha, amorosa, escandalosa, gentil, paixão do Major Vidigal, o qual era a sua paixão antes de entrar na polícia.

JOSÉ MANUEL- magro e mentiroso, falava mal da vida das pessoas. Disputa com Leonardo a moça Luisinha (interessado no dinheiro de Dona Maria).

CHIQUINHA- filha da comadre, casa-se com Leonardo Pataca. Antipática a Leonardo, viviam brigando e ela fazia de tudo para irritá-lo.

Mestre-de-reza de D. Maria- velho cego, porém extremamente astuto e rigoroso. Ensinava as escravas de D. Maria a rezar. Reata a relação de José Manuel e D. Maria.


Tempo e espaço

A história se passa no Segundo Reinado na época de D. João VI na cidade do Rio de Janeiro.Como os personagens são de baixa renda, as ações acontecem em bairros mais afastados do centro.

Análise da obra


    - Tom humorístico

 - Romance de costumes: faz crônica de costumes do Rio Colonial, na época de D.João VI (início do século XIX)

 - Se concentra nas proezas de Leonardo-Pataca e de seu filho Leonardo(dois estereótipos da malandragem carioca), principalmente nas amorosas, além de retratar(com muitos detalhes) festas, encontros, instituições e profissões populares da cidade

 -É uma obra escrita na época do romantismo, mas que se distancia das características das épocas pelos seguintes motivos:
  - não envolve personagens da elite, mas sim pessoas de baixa renda;
  - não há idealização dos personagens, mas descrição direta, objetiva e realista;
  - o protagonista(Leonardo) não é um herói nem um vilão:é um anti-herói malandro, de natureza cômica;
  - as cenas não são idealizadas, mas sim reais e com poucos aspectos poéticos;
  - ausência de moralismo e recusa da ideia de que as ações humanas se dividem necessariamente entre boas e más;
  - o estilo é oral e descontraído, com uma linguagem simples e direta, diferente da conversa ou do estilo jornalístico da época.
  Tal originalidade afastou a obra do Romantismo e ao mesmo tempo a aproximou do Realismo, do Modernismo e do folclore nacional,ou seja, é um Romance excêntrico, de transição.

 - Há a exageração dos traços físicos dos personagens e das situações, ou seja, caricaturas

 - Rompe a tensão bem x mal, heroi x vilão.As personagens praticam o bem e o mal, impulsionadas pelas necessidades  -> típico do Romantismo

 - Leonardo é um anti-heroi, “filho de uma pisadela e de um beliscão”

 - Imparcialidade do narrador -> neutro e onisciente

 - Fidelidade ao real

 - Digressões e metalinguagem

 - Não há juízo moral

 - Não é considerada uma obra percussora do Realismo, pois o Realismo pertencente a ela é espontâneo, arcaico,sem o estofo analítico da 2ª metade do século XIX

 - No decorrer do livro alguns personagens (como D. Maria e a comadre) acreditam que coisas ruins acontecem com Leonardo por azar, por ele ter nascido num dia ruim

- O narrador dialoga com o leitor, no decorrer do livro

- O livro é narrado em 3ª pessoa  e o narrador é onisciente


Síntese

  Leonardo Pataca era um português que veio trabalhar no Brasil. Na viagem, conheceu Maria-da-Hortaliça. Eles se paqueraram no navio através de uma pisadela e um beliscão. Chegando ao Brasil, ela começou a sentir enjoos: estava grávida de Leonardo. Eles foram morar juntos. Chegou o dia do batismo do bebê. No início, a festa estava com ares aristocráticos conforme o desejo de Leonardo-Pataca. Já no final estava uma gritaria, um alvoroço.
  Sete anos se passaram. O filho deles havia crescido. Leonardo era estranho, arteiro e guloso, apanhando sempre da mãe. Um dia Leonardo Pataca chegou na sua casa sem avisar e confirmou algo que já desconfiava: Maria o traía. Espancou a mulher e o filho, o qual, muito arteiro estava rasgando seus papeis no momento da briga. Só parou de bater na Maria-da-Hortaliça quando um barbeiro amigo e padrinho de Leonardo interviu. Leonardo saiu bravo.
  De tarde voltou para tentar uma reconciliação com a esposa, apesar de ainda estar relutante. O barbeiro o acompanhou e lá chegando descobriram que Maria havia partido para Portugal junto com um capitão. Assim, Leonardo saiu em choros, abandonando o filho, que agora era de responsabilidade do padrinho.
  O padrinho sempre foi um homem sozinho e por isso pegou muito amor por Leonardo. Até suas travessuras o “agradavam”. Ele tinha algum dinheiro guardado e como era sozinho estava disposto a gastar com o futuro do afilhado. Pensou em formá-lo como meirinho ou até mesmo barbeiro, afinal, esse era o modo como ele tinha se “arranjado”. Depois de muito pensar, decidiu que o menino deveria ser padre. Então, conversou com ele e pediu para que parasse de aprontar travessuras. O menino não apreciou muito a ideia.
  No mesmo dia havia uma procissão. Leonardo, escondido do padrinho, entrou nela fazendo farra e gritaria, seguindo-a. Na mesma noite, seu pai, apaixonado por uma cigana, que não o correspondia, foi a um horripilante casebre de um homem que fazia feitiçaria (emprego muito lucrativo na época). O negrinho pediu que ele entrasse e fosse orar perto da fogueira, onde estavam mais três ajudantes.
  De repente bateu na porta o Vidigal. Naquela época, a polícia não era bem organizada e o Vidigal era temido, pois ele julgava os casos e dava ordem de prisão (“a sua justiça era infalível”). Ele invade o casebre com vários soldados junto de si. Leonardo tentava se esconder assustadíssimo sem resultado, pois conhecia o Vidigal. A feitiçaria era proibida na época, um tabu. O Vidigal ordena que eles continuem dançando ao redor da fogueira. Os soldados debochavam e horas depois, quando pararam de tão cansados, o Vidigal ordenou chibatadas. E todos foram para uma casa de guarda. Leonardo implorou para que o deixasse livre, não queria que todos soubessem que ele havia se envolvido com bruxaria. Mas nada adiantou, o Vidigal não poupou sua liberdade.
  Ele passou a noite e boa parte da manhã em uma casa de guarda. A notícia já havia se espalhado entre os meirinhos. Quando Leonardo Pataca achou que ia ser liberto foi enviado para a prisão.
  E o Leonardo (filho), aonde estava? Passou a noite em uma festa cigana com dois meninos que achou na procissão da Via-Sacra. Os ciganos eram ociosos e desonestos. De manhã, o menino voltou para casa e encontrou o padrinho muito preocupado que passou parte da noite o procurando. O menino afirmou que foi ver um oratório e tudo ficou bem.
  A madrinha de Leonardinho, sua parteira, era muito “ocupada”, pois não faltava em nenhuma missa. Em uma delas ouviu boatos do que acontecera com Leonardo (pai) e  a Comadre foi visitar o padrinho para saber todos os detalhes. Foi apenas com curiosidade, queria assunto para fuxicar nas missas.
  O padrinho contou-lhe tudo, inclusive seu desejo do menino ser padre. A madrinha não concordava, achava que era melhor o menino aprender um ofício. E a partir deste dia, vinha periodicamente ensiná-lo o alfabeto, por um motivo que só saberemos depois.
  A comadre foi até o pátio dos bichos, lugar onde ficavam os soldados idosos, os quais, muitas vezes, adormeciam e eram caçoados. Ela pediu a velho tenente para soltar Leonardo, depois de lhe contar tudo o que havia se passado. Ela fez isso porque Leonardo Pataca pediu (na cadeia avisou um colega que a avisou), uma vez que esse velho tenente já conhecia Leonardo e já o havia ajudado. O tenente partiu e foi ajudá-lo.
  O velho tenente conheceu Leonardo da seguinte maneira: seu filho engravidou uma moça pobre em Portugal, dias antes dele vir para o Brasil. O velho tenente deu a moça uma quantia em dinheiro, mas em sua alma “a conta ainda não estava acertada”. Muitos anos depois o velho tenente descobriu que a sua neta estava no Brasil: era Maria, esposa de Leonardo. Então, sentiu obrigação de fazer algo por eles. Em uma certa ocasião, livrou Leonardo de um pequeno acontecimento. Leonardo achava que o velho havia lhe ajudado por que ele era um homem bom e quando se viu preso, não hesitou em pedir ajuda.
  O padrinho, chamado de Compadre, desconhecia a própria origem. Aprendera o ofício de barbeiro com o homem que o criara. Depois de rapaz, desligou-se da família e embarcou para a África como médico num navio negreiro, pois fazia sangrias com eficiência (método usado na época para curar pessoas). Na volta ao Brasil, tendo ganhado a confiança da tripulação, foi chamado ao leito de morte do capitão, que lhe confiou um baú de dinheiro para que o entregasse a uma filha residente no Rio. O barbeiro ficou com o dinheiro, em vez de entregá-lo a suposta herdeira. 
  Demonstrava extrema paciência com o enteado, que sempre frustrava suas expectativas. É também tolerante com a vizinha, que não perde chance em provocá-lo por causa das diabruras do afilhado.
  O Compadre continuava a ensinar à Leonardinho o alfabeto e as rezas. Percebeu que o menino tinha aversão a religião, mas não desistiu, o menino havia de ser padre. Os vizinhos não acreditavam nisso, o que até gerou brigas. O velho tenente, quando descobriu que Maria, havia ido embora para Portugal, tentou pegar a guarda de Leonardinho para tentar “acertar a conta” que seu filho fez. Mas não obteve resultado. O Compadre começou a criar Leonardinho e ia terminar, pois sonhava com um grande futuro para ele.
  O menino, depois de muito esforço, aprendeu uma reza. O Compadre o colocou em uma escola para clérigos e ele apanhou muito no primeiro dia (o instrutor era extremamente severo), jurando nunca mais voltar a uma escola. Com muita persistência, o Compadre conseguiu que ele ficasse na escola durante dois anos. O menino começou a “furar” aula, indo sempre para a Igreja da Sé, a qual, sempre muito cheia, tornava-se difícil achá-lo. E lá fez amizade com um sacristão (coroinha). Pouco tempo depois, aprontava muitas travessuras. Certa vez, os dois se vingaram de uma vizinha ranzinza. Leonardinho, que não gostava dela, jogava fumaça do turíbulo no seu rosto durante uma missa inteira.
  A vizinha foi reclamar com o mestre-de-cerimônias, o qual repreendeu os meninos. Eles, então, resolveram se vingar dele também avisando errado o horário do sermão mais importante do ano que o mestre de cerimônias tinha que dar. No momento do aviso, o padre estava na casa de uma cigana, lugar que frequentava em segredo. O mestre-de-cerimônias chegou atrasado para o sermão e ficou extremamente bravo, expulsando Leonardinho de seu ofício de sacristão. A vizinha ranzinza e a comadre avisaram o Compadre que o menino não tinha vocação para a Igreja.
  Leonardo (pai) descobriu que o homem que a cigana saía era o tal mestre-de-cerimonias. (que babado! haha) Planejou uma vingança, enfurecido. Chegou a uma festa de aniversário da cigana e o mestre-de-cerimonias estava em um quarto. Um “valentão” (Chico-Juca), contratado por Leonardo, entrou na festa e provocou uma desordem. Em seguida, avisou o Vidigal. Leonardo escondeu-se em lugar conveniente e ficou observando o resultado de sua intriga. Entrou o Vidigal com seus granadeiros. O padre foi pego em flagrante delito de amor: de cuecas, meias pretas, sapatos de fivela e um gorrinho na cabeça. Trazido assim para a sala, todos desataram a rir. Em seguida, o padre foi conduzido à Casa de Guarda na Sé. No dia seguinte, foi liberto. Para não perder o emprego que estava em risco, ele decidiu abandonar a Cigana.
  Depois disso, Leonardo conseguiu unir-se à Cigana por mais uns tempos. A Comadre lhe deu um sermão e muitos de seus colegas não aprovaram essa reaproximação. A Comadre tinha interesses e queria que Leonardo se casasse com sua filha, a qual morava com ela e lhe pesava muito. Leonardo não se abalou com o sermão, estava extremamente feliz com a Cigana. Contudo, posteriormente, será feito um plano para que Leonardo se case com a sobrinha da Comadre do qual até a Cigana irá participar.
  Na cidade estava havendo uma procissão e, como de costume, por onde ela passava as pessoas abriam as portas para receber visitas. O Compadre, Leonardinho, a Comadre e a vizinha ranzinza foram parar na casa de D. Maria. O Compadre começou a contar a D. Maria sobre o afilhado, enquanto a vizinha intervia, atrapalhando. No final, quando a procissão já havia passado e todos estavam indo embora, D. Maria pediu ao compadre que aparecesse novamente para conversarem sobre o futuro do menino. (“Já se vê que o menino não era dos mais infelizes pois que, se tinha inimigos, achava também protetores por  toda a parte”)
  Alguns anos se passaram. Leonardo tinha muitas opções a escolher: ser clérigo (Compadre), artista (Comadre) ou algo relacionado a cartórios e processos (D. Maria): “(...) escolheu a pior possível (...) constituiu-se um completo vadio (...)”. Eles continuavam a visitar D. Maria. Leonardo odiava visitá-la, era entedioso. 
  D. Maria, já muito velha, conseguiu a guarda de uma sobrinha que perdeu os pais. A menina, chamada Luisinha, era desengonçada e feia, “ainda não tinha adquirido a beleza de moça”. Porém, por mais que rirá interiormente quando a virá, se sentiu atraído. E um tempo depois, quando foram visitar D. Maria novamente em um domingo de Espírito Santo, Leonardo foi o primeiro a estar pronto. Quando viu a menina não sentiu mais vontade de rir. O Compadre e D. Maria combinaram de irem ver os fogos a noite.
  A noite chegou. Leonardo e Luisinha foram de braços dados. Luisinha permaneceu em silêncio e quieta como sempre até a hora dos fogos, quando se extasiou e ficou maravilhada. Ela se apoiava em Leonardo para ver melhor e os dois se familiarizaram. Voltaram de mãos dadas e conversando. A despedida foi uma tristeza para ambos, que agora pareciam velhos conhecidos.
  Porém,quando houve a próxima visita, Luisinha voltou a ser o que era, quieta, sem nem olhar para Leonardo. E as próximas visitas assim foram até a chegada de José Manuel. Desde o princípio, o Compadre e Leonardo não gostaram de José que só sabia falar da vida dos outros. A raiva de Leonardo aumentou quando ele percebeu que José estava interessado em casar-se com Luisinha, pois essa era a única herdeira de D. Maria, a qual já estava velha. Ele pensou até em matá-lo. O Compadre também não gostava da ideia de Luisinha e José juntos, uma vez que ele tinha desistido da ideia de Leonardo ir para Coimbra e agora queria que ele casasse com a moça. Então, ele contou a Comadre o que acontecia e pediu que ela “tirasse José Manuel do caminho”.
  A Comadre aceitou, pois também queria ver seu afilhado bem. Começou a dar indiretas para D. Maria sobre o real interesse de José Manuel. Leonardo decidiu mostrar a Luisinha o amor que sentia. Em uma visita, quando os dois estavam sozinhos, depois de muito pensar, ele se declarou. Luisinha saiu muda e envergonhada. Dias depois, notava-se que ela estava mais bonita, tanto interiormente como exteriormente, estava mais agitada.
  Leonardo-Pataca havia há muito tempo abandonado a Cigana e se casado com Chiquinha, a qual engravidou. Chegou o dia do parto e a Comadre veio ajudar. Ela era uma das parteiras mais conhecidas. Na época, durante o parto, era usado muitos santos e fé, sendo a religiosidade um “médico”. Leonardo-Pataca ficou extremamente nervoso até a criança nascer. Era uma menina e o pai ficou muito alegre por tudo ter dado certo.
  A Comadre aproveitou uma história de um roubo misterioso de uma moça na cidade e disse a D. Maria que o ladrão era José Manuel. Logo quando José Manuel apareceu, D. Maria o acusou, sem conseguir guardar segredo como a Comadre pediu. José jurou que era mentira, sem sucesso.
  José Manuel, muito esperto, percebera que tinha um inimigo, mas não sabia quem. Então se aliou ao mestre-de-reza (ensinava rezas aos criados de D. Maria), o qual tinha fama de ótimo casamenteiro. Muito astuto, em conversa com D. Maria fingiu, de alguma maneira, saber tudo sobre o tal roubo misterioso, não dizendo quem era o ladrão, deixando a velha em dúvida.
  O Compadre adoeceu e morreu. Leonardo foi morar com o pai e a Comadre também. Leonardo, conforme no testamento do Compadre, era o único herdeiro de sua fortuna. No enterro, Leonardo e Luisinha se aproximaram e nas visitas seguintes en que ele e a Comadre fizeram a D. Maria, os dois passaram a conversar.
  Leonardo (filho) e Chiquinha não se davam bem e a cada dia, as brigas pioravam. Certo dia, Leonardo foi para casa bravo por Luisinha não ter ido lhe ver em uma de suas visitas a D. Maria. Chiquinha se aproveitou da situação e o provocou. Leonardo, que não era calmo, avançou sobre a mulher, fazendo Leonardo-Pataca o ameaçar com uma espada. Depois da ameaça do pai, o menino fugiu. A Comadre chegou e depois de saber do acontecido, indignada, foi atrás do afilhado.
  Leonardo andou muito, chateado com o ocorrido. Quando parou, começou a pensar em Luisinha. Assim ficou um tempo até que percebeu que atrás dele acontecia uma festa de uma súcia (grupo mal falado). Estava de saída quando reconheceu que um dos membros da súcia era seu antigo amigo sacristão. Contou a ele tudo o que havia acontecido. O antigo amigo lhe convidou para seguir com o bando e Leonardo, que não sabia o que fazer, seguiu com eles.
  Leonardo se apaixonou por Vidinha quando a viu cantando modinhas. O problema é que já havia dois rapazes da súcia interessados nela. Leonardo até chegou a pensar em como havia se apaixonado por Luisinha, estranha, quieta, enquanto havia mulheres como Vidinha: morenas, sensuais e bonitas.
  A comadre depois de muito procurar seu afilhado foi na casa de D. Maria. O meste-de-reza já havia cumprido seu trabalho: trouxe o pai da moça do roubo misterioso, o qual sabia quem era o assaltante (não era José Manuel) e denunciou a Comadre para D. Maria. Muito esperto e observador, foi ele que descobriu que a comadre e Leonardo (filho) eram os inimigos de José Manuel.
  D. Maria já havia perdoado José Manuel e pensava que ele poderia ser o futuro marido de Luisinha. A Comadre, depois das reais acusações, pediu desculpas e foi perdoada. Ela percebeu que quem a desmascarou era o mestre-de-reza e sabia, que apesar de “atrasado”, Leonardo ainda estava na disputa por Luisinha.
  Leonardo havia se tornado agregado onde Tomás morava. Com o passar dos dias, ele e Vidinha se aproximaram muito, o que provocou raiva e ciúmes nos dois rapazes, que moravam na mesma casa. Certo dia, houve uma discussão na família devido a “Vidinha e seus pretendentes”. Um dos rapazes brigou fisicamente com Leonardo, o qual também reagiu. Quando apartaram a briga, Leonardo ia embora, mesmo sem ter para onde ir: “pesava sobre o infeliz desde criança uma espécie de sina de Judeu Errante”.
  Mas, nesse momento, adentrou pelo portão a Comadre: finalmente havia achado seu afilhado. Depois de contar toda a sua vida às velhas irmãs solteiras responsáveis da casa e essas contarem suas histórias às comadres, ficou decidido que Leonardo permaneceria com as irmãs, as quais o estimavam muito. 
  Os dois rapazes pararam de implicar com Leonardo durante dias: eles tramavam algo. Leonardo se aproximou ainda mais de Vidinha e a Comadre sempre ia visitar ele e suas novas amigas: as velhas irmãs solteiras. Em uma outra “patuscada” (festa) fora todo o grupo. Logo no início, o Major Vidigal apareceu e levou Leonardo para o desespero de Vidinha e para a alegria dos dois rapazes (que haviam armado tal situação).
  José Manuel ajudou D. Maria a vencer uma causa da justiça, o que a deixou felicíssima. Muito esperto, pediu Luisinha em casamento. D. Maria aceitou e Luisinha também, já que Leonardo havia a abandonado. José Manuel casou por interesse na herança que Luisinha iria receber assim que D. Maria morresse.
  Leonardo só pensava em fugir enquanto andava na rua com Vidigal e seus soldados. Assim que pôde, o fez e voltou para a casa de Vidinha, onde já havia formado dois grupos: um que acusava os dois rapazes do acontecido com Leonardo e outro que os defendia. Com a sua chegada, tudo se acalmou. Contudo, Leonardo provocou profunda raiva no Major Vidigal, o qual nunca havia deixado ninguém fugir. Logo a notícia se espalhou e o Major, que era extremamente respeitado, foi caçoado. Ele queria se vingar de Leonardo.
  Mas porque o Major queria prender Leonardo? Porque os dois rapazes, querendo vingança, lhe contaram que ele era um vadio, que “vivia de favor” na casa de sua mãe e que queria roubar a pretendente deles, Vidinha.
  A Comadre, sabendo do motivo da “quase” prisão de seu afilhado, logo lhe arranjou um emprego e o Vidigal não poderia se vingar (afinal, agora ele não era mais vadio). Leonardo trabalhava em uma ucharia (despensa de carnes) real.
  Mas Leonardo se envolveu com uma namorada de um toma-largura do palácio real (“...recebera de seu pai a fatalidade de lhe provirem sempre os infortúnios dos devaneios do coração”). Vidinha desconfiou e o toma-largura também, “pegando” os dois almoçando juntos. Houve uma briga e Leonardo foi despedido. Vidinha, que descobriu o motivo dele ter sido despedido, brigou com ele. Depois de muito esbravejar decidiu ir na ucharia na casa do toma-largura. Chegando lá, ela xingou ele e sua namorada. Só que o tal empregado se encantou por Vidinha e decidiu que ia “ter um caso” com ela: era a melhor maneira de se vingar de Leonardo.
  Leonardo, preocupado com o que poderia acontecer, seguiu Vidinha que estava muito apressada. Quando foi entrar na ucharia, o Major Vidigal, que já o esperava a partir do momento que ele se tornou desempregado , lhe pegou. Leonardo permaneceu desaparecido por dias. Nem mesmo a Comadre conseguiu notícias dele. A família de Vidinha começou a desconfiar que ele não aparecia porque não queria, e achou isso a maior ingratidão possível.   E passaram a odiá-lo, principalmente Vidinha, a qual ainda tinha raiva dele pelo “amor ofendido”. 
  O toma-largura passava todo dia pela casa de Vidinha. Todos da família perceberam o interesse do homem e acharam-no um ótimo pretendente para ela.
  Após alguns dias, resolveram fazer uma súcia e o toma-largura foi convidado. Só que ele era um bêbado. No final da festa, embriagado, se irritou e começou a atirar objetos, quando apareceu o Major Vidigal e seus granadeiros. Um dos granadeiros avançou para o toma-largura lhe dizendo que tinha contas a acertar. Era Leonardo, o qual o capturou e ia levá-lo para a Casa de Guarda. Contudo, o toma-largura desmaiou no caminho e eles resolveram deixa-lo por lá: “era a mais bela vingança”.
  Mas como Leonardo havia se tornado granadeiro? Depois de ser capturado pelo Major Vidigal, abriu uma vaga para granadeiro, e o Major, sabendo que Leonardo era esperto e astuto, fez com que ele se tornasse seu novo granadeiro. Só que mesmo na carreira militar, ele cometia diabruras. 
  Certa vez, o Vidigal ouviu boatos que aconteceria uma grande festa, e que ultimamente nessas festas cantavam cantigas pejorativas sobre ele.A festa era uma oportunidade perfeita para o Major checar se realmente estavam tirando sarro dele. Junto com os granadeiros, montou um plano. O combinado era que Leonardo conferisse se a festa estava acontecendo e desse um sinal para os granadeiros. Leonardo deu um assovio que significava que nada ocorria, porém não votlou. O Major e os granadeiros, depois de ficarem esperando-o por muito tempo, decidiram ir procurá-lo.
  Chegando ao local viram que a festa realmente acontecia e que havia um sujeito deitado no chão com a cabeça coberta que representava o Major Vidigal morto. O Major, depois de esvaziar a casa, ordenou que o sujeito, que tentou fugir, tirasse o saco da cabeça. Era Leonardo. Para a surpresa de todos, o Major não fez nada, o que causou remorsos em Leonardo.
  Um tempo depois, o Major decidiu capturar Teotônio em uma festa, o que já queria há tempos. Essa festa era o batismo da filha de Leonardo-Pataca. O Major pediu a Leonardo que fosse ao batismo, para vigiar Teotônio e avisar o Major na hora em que estivesse indo embora. Leonardo não queria, pois estava brigado com seu pai e com sua madrasta desde a época em que foi ameaçado com a espada, todavia sentia que devia algo ao Major e foi.
  Ao contrário do que pensou, ele foi muito bem recebido e durante a festa “começou o Leonardo a sentir remorsos pelo papel de Judas que ali estava representando”. Então, resolveu ajudar Teotônio, dizendo o porquê dele estar ali. Os dois se juntaram e montaram um plano. Leonardo saiu da festa quando já era madrugada e avisou o Major que Teotônio estava vindo. O Major se deparou com um aleijado e após isso só passavam pessoas normais que estavam indo embora da festa. O Major foi cobrar de Leonardo o porquê de Teotônio não ter passado ali. Ele afirmou que Teotônio havia saído da festa com um chapéu de palha e jaqueta branca. O Major percebeu que Teotônio era o aleijado com quem ele tinha se deparado (Teotônio possuía grande talento para imitar).
  Logo pela manhã, o Major e os granadeiros estavam se retirando do local, quando veio um amigo de Teotônio agradecer a Leonardo por ter ajudado o amigo, sem perceber a presença do Vidigal, o qual ordenou prisão a Leonardo.
  José Manuel entrou em guerra com D. Maria e se mudou de casa. Fez isso porque já estava casado, seu dote e sua herança estavam garantidos. Ele não deixava Luisinha sair e a maltratava e essa, sentia falta de Leonardo, das missas e de D. Maria, coisas que ela nunca havia dado muito valor.
  D. Maria, surpresa e decepcionada com José Manuel, entrou em uma ação contra ele. Ela e a Comadre voltaram a se falar e estavam mais unidas do que nunca. Uma prometeu ajudar a outra. A Comadre, quando soube da prisão de Leonardo, foi implorar para que o Vidigal o soltasse. O Major foi inflexível e disse que além de ficar preso, o rapaz também levaria chibatadas. Extremamente desesperada, a Comadre foi pedir ajuda para D. Maria. Ambas foram na casa de Maria-Regalada com uma única esperança: que ela fizesse o Major mudar de ideia.
  Partiram as três para a casa do Major Vidigal, o qual se intimidou com a presença delas. Depois de muita discussão, do Major derramar algumas lágrimas e, de um último golpe, uma promessa secreta de Maria Regalada ao Major, ele cedeu. Leonardo estava livre de tudo desde que Maria Regalada cumprisse com a sua palavra.
  José Manuel morreu de apoplexia (espécie de um derrame) quando voltava de um cartório, onde havia discutido com um procurador a respeito da ação de D. Maria contra ele. A morte foi o “juiz” dessa ação. Luisinha chorou, mas não era lágrimas de viúva (afinal, ele não merecia). Ela chorou como choraria por qualquer vivente.
  No final do enterro, Leonardo chegou com uma farda de sargento (“cargo alto” na época). Ele avistou Luisinha, a qual não via fazia tempo e se abalou. O mesmo aconteceu com ela. Conversaram por um bom tempo. Fazia tempo que eles não passavam por um momento tão agradável como esse. A Comadre e D. Maria perceberem o interesse mútuo do casal.
  Os dois começaram a namorar “escondidos”. O casal queria se casar e D.Maria e a Comadre também pensavam nisso. Só havia um problema: o cargo de Leonardo não permitia casamento. Leonardo e Luisinha se amavam, então ele decidiu diminuir seu posto para que assim ele pudesse se casar. Luisinha comentou com D. Maria seus planos e pediu ajuda.
  Mais uma vez, D. Maria procurou Maria Regalada, a qual estava morando com o Major Vidigal. Essa era a promessa secreta. Há tempos que o Vidigal pedia a ela que eles morassem juntos. Ela só demorou a aceitar por “capricho”, pois sempre desejou isso. O Major aceitou a proposta, já que achava certo Leonardo se casar com que gostava. Então, Leonardo foi rebaixado a Sargento de Milícias.
  Leonardo e Luisinha se casaram. Um tempo depois chegou a herança do padrinho barbeiro, D. Maria e Leonardo-Pataca morreram “e uma enfiada de acontecimentos tristes que pouparemos aos leitores fazendo aqui o ponto o final.”

Texto de Graziella Toffolo Luiz