quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Resumo de Vidas Secas


                Vidas Secas (1938) - Graciliano Ramos


Autor e obra

  Nasceu em Alagoas, em 1982, e teve 15 irmãos. Se envolveu, durante sua vida, com educação e política. 
  Com o golpe de 1930 ( Era Vargas), se afasta da política e começa a se dedicar mais a seus romances.
  Em 1933 volta como diretor da Instrução Pública e realiza uma grande reforma na educação de Alagoas, sendo preso por 3 anos, sendo acusado de se envolver com o comunismo.
  Após ser liberto passou a viver em uma pensão, no Rio de Janeiro. Para pagar a conta em tal pensão, Graciliano, ao atender um pedido de um amigo que desejava “umas histórias do Nordeste”, começa a escrever Vidas Secas. Cada capítulo, conforme ficava pronto, era vendido para ele conseguir se sustentar. Todo dia, antes de escrever algum capítulo de Vidas Secas, Graciliano fumava três maços de cigarro e bebia um pouco.
  Em 1945 se alia oficialmente ao Partido Comunista Brasileiro.Em 1951 se torna presidente da Associação Brasileira de Escritores. Morre em 1953 devido a um câncer.


Tempo e espaço

  O livro se passa no sertão nordestino, um lugar inóspito e monótono. A escassez das falas dos personagens ( que mal existe) se funde com a aridez do sertão. Era dificílimo encontrar um emprego, quem dirá uma boa remuneração. Fabiano vivia em um processo de semi-escravidão: trabalhava muito, ganhava pouco, além de ser roubado quando ia receber do patrão.
  Já o tempo em que a historia se desenvolve não é definido. A história de Fabiano e sua família sempre aconteceu no semi-árido nordestino.


Personagens

Fabiano: vaqueiro do sertão nordestino gostava do meio rural, é violentado por instituições sociais, sente-se diminuído e marginalizado, apresenta extraordinária capacidade de resistência, constitui um “herói” problemático, marcado pela contradição entre a revolta e a passividade, o que mais o atormenta é não ter o domínio da linguagem (mal falava), acredita em poderes sobrenaturais.

Sinha Vitória: mulher de Fabiano, era astuta. Seu maior sonho é ter uma cama, o que representa o alcance da consciência de cidadania, pela necessidade de sentir que vive uma vida autêntica, ocupada com os afazeres domésticos, para diminuir suas frustrações, nas horas de aflição costuma apelar para Deus e para Virgem Maria, personalidade mais dedicada, não tão tosca e primitiva como a do marido, é a âncora da família, demonstra possuir certa destreza mental, além de ser guerreira e forte.

Os meninos: eram dois, filhos de Fabiano e Sinhá Vitoria a ausência de nomes revela o processo de despersonalização a que foram submetidas pelas injustiças sociais, a miséria está relacionada com a ausência da fisionomia dos meninos. O menino mais novo, ingênuo, vê no pai um modelo a ser seguido, o mais velho, é inquieto e movido pela curiosidade.

Baleia: cachorra da família de Fabiano, era tratada como gente, uma espécie de irmã para os meninos, magra, vira-lata, os pontapés que recebe, deixam-na revoltada e, tal como os homens, “cogita” a possibilidade de fuga, durante o livro ela sofre um processo de “antropomorfização“.

Seu Tomás de Bolandeira: tido como exemplo de sabedoria, como um indivíduo alfabetizado, sábio, culto, porém falido. É um arquétipo em que as demais personagens se espelham, principalmente Fabiano.

Soldado Amarelo: simboliza o despotismo dos militares, o amarelo significa, no imaginário popular, o desespero, o ódio e a raiva, impõe-se com arrogância diante de Fabiano, prendendo-o.

Dono da fazenda: símbolo do poder econômico opressor representa o imobilismo de uma estrutura social que, aliada a outros elementos, acaba por determinar o nomadismo dos retirantes.

Fiscal da prefeitura: é um estágio menor das instituições sociais, figura que representa a intolerância da máquina governamental.


Análise da obra

- Vidas Secas é uma obra da Segunda Fase Modernista, inserida no ciclo do romance regionalista nordestino desenvolvido ao longo da década de 1930.

- É a obra que representa o grau máximo de depuração estilística pela concisão e pelos efeitos de sentido criados pelas manobras com a linguagem.

- O romance adquire uma dimensão épica, por problematizar as precárias condições de sobrevivência no sertão.

- Por trás dos acontecimentos, surge o tema da utopia de justiça social. A chama da esperança se sustenta na determinação com que os retirantes perseguem uma possibilidade concreta de participação social. O direito à cidadania é o anseio maior de cada personagem, cada um com suas particularidades.

- A estrutura do romance é aberta. Graciliano, no início do livro anuncia o anseio por um futuro melhor, registrando-a no futuro do pretérito (vestiriam, remoçaria, engrossariam, provocaria, renasceria), para afirmar o quanto eles sonham com essa possibilidade, mesmo sabendo dos imensos obstáculos que impediam sua concretização.

- O romance termina como começou, o que evidencia a circularidade que o compõe.

- As vidas se secam não só fisicamente, mas também a alma das personagens, considerando a dificuldade que sentem de estabelecer relacionamentos interpessoais.

- A linguagem rarefeita espelha a degradação do universo no qual os retirantes vivem. Nos poucos diálogos, se acumulam ruídos o que ocasiona a frustração do uso da linguagem. Até o papagaio, em seu curto tempo de vida, aprendeu apenas a imitar latidos.

- A desumanização das personagens e a humanização da cachorra Baleia é uma característica marcante do livro.

- Vidas Secas é um romance áspero, a sua poesia é densa, apontando para a urgência da reforma agrária no país.

- Os capítulos do livro são autônomos, ou seja, o leitor tem a liberdade de escolher qual quer ler primeiro.

- O foco narratico é em 3a pessoa, apresentando um aspecto inovador para esse foco de relato: a onisciência é prismática. Em Vidas Secas, o relato faz com que o leitor entre em contato direto com a realidade, enxergando-a pelo prisma da personagem que está em cena.

- No livro também há o emprego do discurso indireto livre, que dá ao narrador-observador um posicionamento discreto: sua "voz" quase se confunde com a das personagens.

- Apesar de a cronologia não estar explícita, cenas autônomas ("Mudança", "Inverno", "Fuga") deixam transparecer algumas ordenações temporais mais concretas que outras.

- A paisagem natural é tão hostil que é possível falar da existência de um contra-espaço: o sertão nordestino se torna o principal responsável pela expulsão dos sertanejos.

- Há a presença quase absoluta de um monólogo interior, por não existirem praticamente diálogos.


Síntese

  O livro se inicia com Fabiano, sua esposa Sinhá Vitória, seus dois filhos e a cachorra Baleia andando no sertão. Eles já caminhavam há alguns dias sem um destino. No dia anterior, eles haviam matado o papagaio, pois estavam com muita fome.
  Avistavam juazeiros, era uma fazenda abandonada. A cachorra Baleia caçou um preá, o que animou toda a família. Fabiano e Sinhá Vitória estavam esperançosos, pois uma grande nuvem se formava no céu: iria chover. Fabiano pensava que finalmente teria chance de recomeçar, de se tornar o fazendeiro daquele lugar abandonado.
  A chuva chegou e o fazendeiro também, o que desconcertou Fabiano. Ele implorou para ficar e o fazendeiro aceitou, lhe dando alguns materiais, como botas.
  O fazendeiro vinhas às vezes e sempre reclamava grosseiramente dos serviços de Fabiano, apesar de estar tudo em ordem e do gado estar crescendo. Fabiano sabia que quando a seca retornasse, ele seria despedido, pois não haveria maneiras de manter o gado.
  O patrão era autoritário, sem-educação e o enganava na hora de pagar. Durante esses dias de trabalho, Fabiano chegou a pensar que era um homem, mas depois se corrigiu dizendo que era um bicho. “Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades”.
  Fabiano acreditava que seus filhos tinham que ser igual a ele, trabalhar em uma fazenda e não igual ao Seu Tomás da Bolandeira, que possuía um monte de livros e que estava em uma situação ruim.
  Um dia Fabiano foi até a cidade para comprar umas coisas. Entrou em um bar e bebeu apenas um copo de cachaça. Após isso, um soldado amarelo o chamou (sendo mais uma ordem do que um pedido) para jogar baralho com apostas em dinheiro. Fabiano perdeu o pouco do dinheiro que lhe restava e foi embora, sem se despedir do soldado amarelo. Já estava na rua quando o tal soldado o perseguiu. Fabiano, após receber um pisa no pé, xingou a mãe do soldado, sendo preso.
  Quando chegou à prisão foi espancado. Não conseguia entender porque aquilo tinha acontecido. Não conseguia se explicar para o delegado, mal sabia falar. Não acreditava que o soldado amarelo fez tudo aquilo com ele só porque ele não se despediu. Pensava em Sinhá Vitória e nos meninos, que já deviam estar preocupados com sua demora. Os meninos provavelmente seriam como ele quando crescerem: brutos, e seriam “pisados” por soldados amarelos sem chance de se defender. Não se diz no livro, mas se deduz que Fabiano logo foi solto.
  Em um dia na fazenda, Sinhá Vitória, já exausta doas afazeres domésticos, discutiu com Fabiano, pois queria uma cama decente, como a de São Tomás de Bolandeira e não uma de palha. Ela se queixou do dinheiro que ele gastava bebendo e jogando e ele se queixou dos sapatos caros que Sinha Vitória usava em festas, dizendo que ela andava como um papagaio, o que a machucou muito (além da humilhação, ela se lembrou do papagaio que tiveram que matar). Para aumentar a raiva e a angústia de Sinhá Vitória, uma raposa comeu sua galinha mais gorda.
  Certa vez, o menino mais novo ficou admirando seu pai, Fabiano, enquanto domava uma égua na fazenda. Ele teimou que tinha que fazer algo parecido para impressionar sua família. Foi tentar se aproximar de Fabiano, Sinha Vitória, de seu irmão e da Baleia e todos os ignoraram. No dia seguinte, montou em um bode para impressionar seu irmão e caiu provocando risos e reprovação aos expectadores, sentindo-se humilhado.
  O menino mais velho havia ouvido de uma senhora que curou a espinha de seu pai (conhecida com Sinha Terta) a palavra “inferno”. Se encheu de curiosidade, queria aprender o que “inferno” significava e se gabar para o irmão. Foi perguntar para Sinha Vitória que respondeu que era apenas um lugar ruim. Não satisfeito com a resposta, recebeu um cascudo. Foi chorar perto de uma árvore, indignado com a atitude da mãe. Apesar dela ter lhe falado que “inferno” era um lugar ruim, para ele era uma palavra tão bonita. Baleia veio consolá-lo. Depois de se recuperar, tentou explicar a ela o que Sinha Vitória tinha feito, com um vocabulário tão escasso quanyo o do papagaio que eles haviam comido para sobreviver.
  Já estava anoitecendo e o menino mais velho estava receoso de entrar em casa. Queria esquecer que havia levado um cascudo por uma simples pergunta. Abraçou Baleia, a qual odiava ser apertada (preferia pular), mas que se encolheu para não decepcionar o menino mais velho. Ela imaginava o osso que poderia ganhar de Sinha Vitória.
  O inverno chegou. Passavam-se dias e noites seguidas chovendo. A família se juntava em volta da fogueira tentando se aquecer, aquele era o período do ano em que havia mais “fartura”.
  Pela primeira vez, Graciliano Ramos fala dos sentimentos de Fabiano em relação ao soldado amarelo. Logo quando saiu da prisão, pensou em matar o tal soldado, o delegado e o juiz, caso a seca chegasse. Mas agora chovia e o rio subia a ladeira. Uma possível enchente preocupava Sinha Vitória. E se a água chegasse até a casa? Eles teriam que subir o morro e permanecer lá por alguns dias.
  Fabiano e sua família, inclusive Baleia, foram para uma festa de natal na cidade. A caminhada era longa, aproximadamente 3 km. Fabiano ia com roupas apertadas feitas por Sinha Vitória, com uma bota de vaqueiro e ela ia com um vestido vermelho e um salto alto (que a desequilibrava) e os meninos com roupas feitas por Sinhá Terta. Fabiano tentava não perceber essa desvantagem.
  Durante a caminhada, eles tiraram os sapatos, chegando na cidade com os pés embarreados. Lá acharam uma bica, se limparam e colocaram os sapatos novamente.
  A festa já havia começado e eles estavam no meio da multidão. Fabiano se sentia inferior e sentia raiva, achava que todas as aquelas pessoas eram parecidas com o soldado amarelo. Com o pouco de dinheiro que tinha comprou cachaça. Embriagado, quis “arrumar briga” com as pessoas. Xingava, provocava e por sorte ninguém ouviu. Se o soldado amarelo aparecesse ali, Fabiano bateria nele.
  Cansado e bêbado, tirou o sapato apertado, o colarinho e a camisa, enrolou, e a fez de travesseiro. Acabou por adormecer numa calçada. Sinha Vitória, extremamente apertada para xixi, urinou em uma calçada próxima.
  Os meninos estavam surpresos com a quantidade de pessoas, com as barracas, as lojas, as luzes. Não conseguiam acreditar que tudo aquilo tinha nome, era impossível aquelas pessoas da cidade saber todos os nome. Baleia queria ir embora, havia muitas pessoas diferentes, muitos odores diferentes.
  Passado um tempo, Baleia adoeceu. Estava magra, com diversas partes do corpo sem pelos. “Estava para morrer.” Fabiano decidiu matá-la com uma espingarda, preparando-a bem para Baleia não sofrer muito. Ele também sentia dó, mas acreditava que a doença de Baleia não tinha mais cura.
  Sinha Vitória pegou os dois meninos e os enfiou no quarto, tampando-lhes os ouvidos. Os meninos perceberam o que ia acontecer e relutaram muito, afinal Baleia era um membro da família.
  Fabiano atirou em Baleia e inutilizou uma de suas pernas traseiras. A cachorra fugiu sem entender o motivo do dono de ter feito aquilo. Sentia vontade de morder Fabiano, mas como poderia fazer isso? Ele era o seu dono, ela jamais poderia fazer isso com ele. Adormeceu com a dor. Acordou quando já era a noite, sem entender onde estava e o que havia acontecido. Pensando em preás, em um Fabiano gigante, nos dois meninos, em um lugar lindo, adormeceu novamente, desta vez para sempre.
  Fabiano foi receber sua parte do gado que cuidará do patrão na cidade. Sinha Vitória havia contado o quanto ele precisava receber, usando várias sementes. Apesar de ter poucos conhecimentos, era ela quem calculava as despesas da casa. Mas chegando lá, o patrão lhe pagou um valor muito menor daquele que lhe era por direito. Fabiano contestou e o patrão, bravo, disse para ele arranjar emprego em outro lugar. Fabiano se acalmou, afinal, ele não tinha outro lugar para trabalhar.
  Fabiano saiu indignado. Ele não tinha onde cair morto, senão acusaria o patrão de ladrão e iria trabalhar em outra fazenda. Repensou, era impossível, ele mal sabia se expressar para conseguir outro emprego. Sentia raiva, quis beber, mas se lembrou que da última vez que o fez o soldado amarelo o prendeu. Por final, comparou, em sua mente, o patrão com o governo, especialmente porque o patrão usava, como o governo, uma linguagem que estava além de seu entendimento
  Já havia se passado um ano desde a prisão de Fabiano quando este estava na Caatinga procurando uma égua e sua cria, quando encontrou o soldado amarelo.
  Primeiramente, Fabiano colocou o facão no rosto dele, mas vacilou. Depois de muitos pensamentos invadirem sua cabeça, tornando-o cada vez mais indeciso em se vingar ou não do soldado amarelo, ele achou melhor deixá-lo prosseguir e lhe ensinou o caminho, afinal pensou: “governo é governo”.
  A seca “apertava”, os poços secaram. Um bando numeroso de aves vinha beber água no poço. Sinhá Vitória disse que o gado ia morrer por causa das aves. Fabiano demorou a entender que o gado ia morrer por que não ia ter mais água para beber (as aves iam beber tudo). Achava que Sinhá Vitória quis dizer que as aves matariam e comeriam o gado. Admirou sua esposa pelo “complexo pensamento”.
  Pegou a espingarda e foi atirar nas aves (era a comida da semana). A espingarda o fez lembrar-se de Baleia, sentia dó da cachorrinha. No caminho até o poço se arrependeu de não ter assassinado o soldado amarelo: mesmo se fosse preso, se tornaria um homem. Se arrependeu também de não ter se tornado um cangaceiro. Era um covarde, era um bicho, não merecia respeito (seus pensamentos).
  Matou uma série de aves. Sentia raiva, queria matar o soldado amarelo e seus superiores, sentia raiva do patrão, sentia raiva de ter matado Baleia. Pegou os corpos das aves, necessitava fugir dali, da seca, das lembranças de Baleia (não sabia se foi certo tê-la matado), do patrão que o roubava.
  A seca havia chegado e eles decidiram partir. Mataram um bezerro, salgaram a carne e começaram a caminhada. Não sabiam para onde ir, andaram para o sul. Na caminhada, Fabiano e Sinha Vitória “conversavam” (pouquíssimas palavras), um tentando dar esperança ao outro. No meio do dia, pararam em uma sombra.
  Fabiano viu uma depressão e achou que ali tinha um poço. Não sabia ao certo, mas precisava acreditar. Começou a pensar no cavalo que tinha abandonado na fazenda, não podia levá-lo, era do patrão. Ia morrer, magro com os urubus comendo seus olhos. Esse pensamento o incomodou, voltaram a andar, desta vez em direção ao poço.
  Assim termina o livro, semelhante ao começo, dando a ideia de um ciclo: eles iriam para outro lugar e iam ser enganados. A seca, após um tempo, chegaria, e eles partiriam novamente.

Texto de Graziella Toffolo Luiz

2 comentários:

  1. quero fazer uma pergunta
    Por que Fabiano acaba não recebendo o que calculava?

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  2. O que Fabiano pensava de si mesmo?

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